Estudos recentes sugerem que o desempenho do cérebro melhora conforme envelhecemos. Algumas habilidades, como a capacidade de resolver problemas, atingem seu ápice entre os 40 e 60 anos. A boa nova, porém, vem acompanhada de um aviso: para manter os circuitos em pleno funcionamento com o passar dos anos, é necessário tomar precauções e colocar o corpo e a mente para funcionar.Atividades físicasDesde que os pesquisadores descobriram que os neurônios continuam a nascer durante toda a vida, ainda na década de 1980, o foco das pesquisas se voltou para descobrir quais fatores estimulariam a geração dessas novas células. Os cientistas descobriram que quanto mais sangue circular pelo cérebro, maior o número de novas neurônios. E uma ótima maneira de aumentar o fluxo sanguíneo é praticar exercícios.Os estudos mais recentes sugerem que a atividade física estimula o desenvolvimento de novos neurônios em uma região do cérebro responsável pela memória, o hipocampo. O efeito se dá especificamente em uma pequena área do hipocampo, chamada de giro dentado. Outras regiões cerebrais, ligadas à cognição e ao raciocínio, também se beneficiam com atividades físicas. O neurocientista Art Kramer, da Universidade de Illinois, monitorou um grupo de pessoas com mais de 60 anos que praticou exercícios regularmente durante seis meses. O grupo teve um aumento do volume cerebral em áreas do lobo frontal, região importante para o raciocínio, e do corpo caloso, área que une as duas metades do cérebro. Pesquisas anteriores sugerem que, quando essa região sofre deterioração com o passar dos anos, a velocidade do raciocínio é prejudicada.Não é preciso se tornar um atleta de triatlo para cuidar do cérebro. Caminhar trinta minutos, três vezes por semana já tem seus efeitos, dizem os especialistas.AlimentaçãoA ciência ainda está começando a desvendar se - e como - a alimentação pode ajudar a manter o bom desempenho do cérebro. O que se sabe até o momento é que certos nutrientes podem chegar, sim, até o cérebro e afetar seu funcionamento, e que doenças crônicas ligadas à obesidade, como o diabetes, podem aumentar o risco de doenças neurodegenerativas, como o Mal de Alzheimer.Os estudos na área estão direcionados para a ação de agentes anti-inflamatórios e anti-oxidantes (substâncias que impedem o acúmulo de moléculas nas células, que podem causar erros de funcionamento). Um experimento feito em animais pela pesquisadora Barbara Shukitt-Hale, da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, sugere que anti-oxidantes encontrados no morango, uva e derivados, espinafre e, principalmente, no mirtilo, (fruta comum na Europa) adiaram danos à memória e a funções motoras. No estudo, os ratos mais velhos, que já apresentavam declínio cognitivo, foram alimentados com extrato de mirtilo e morango. Os animais tiveram um desempenho melhor nos testes que mediram habilidades cognitivas e motores. E quando os pesquisadores analisaram o cérebro dos animais, perceberam que havia menos moléculas que podem causar erros de funcionamento nas células. “Nosso estudo mostrou que esses agentes antioxidantes têm efeito direto no cérebro, aumentando a produção de neurônios e de ligações entre essas células”, diz Barbara.Ginástica CerebralAté a Nintendo, com o seu Brain Age, entrou no mercado dos games de ginástica cerebral, que prometem deixar a mente mais afiada e retardar os efeitos da idade. Nenhum desses jogos apresentou provas científicas do seu funcionamento, mas o surgimento desse nicho de consumo deixa a dúvida: é possível, por meio de estímulos direcionados, “treinar” nosso cérebro? Sudoku e palavra cruzada ajudam? Podemos exercitar nossa mente para resistir aos efeitos do envelhecimento? É o que os neurocientistas buscam descobrir no momento.Estímulos à concentração e desvio de foco para treinar o cérebro parecem ter efeitos positivos. Um estudo conduzido na Universidade de Columbia pelo neurocientista Yaakov Stern usou um jogo chamado Fortaleza Espacial, que induz seus jogadores a se concentrar em tarefas distintas. Os resultados iniciais do estudo sugerem que treinar a concentração em uma tarefa, enquanto outras são realizadas ao mesmo tempo, melhora o desempenho em testes cognitivos.Para Ivan Okamoto, pesquisador do Instituto da Memória da Universidade Federal de São Paulo, devemos apostar em atividades estimulantes em vez de investir em exercícios destinados apenas a melhorar o desempenho cognitivo. “A complexidade da tarefa é que vai fornecer mais dados, mais habilidades, tanto motoras quanto sensoriais e sensitivas”, diz Okamoto. “Melhor do fazer palavras cruzadas, é aprender uma língua estrangeira. Melhor do que jogar xadrez é navegar no computador”. O importante é viver em um ambiente estimulante e procurar sempre adquirir novas habilidades, seja um novo idioma ou aprender a tocar um instrumento. O relacionamento com a família e os amigos é outra maneira de estimular o cérebro. “Isso mantém a atividade intelectual e emocional”, diz Okamoto.
Fonte: ÉPOCA
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