quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Médicos recomendam dieta variada e equilibrada para se ter boa saúde
A ordem é clara: ter uma dieta saudável e equilibrada para gozar de boa saúde. Mas, além disso, a nutrição oferece cada vez mais ferramentas (genética, alimentos funcionais, análises) para obtê-la, enquanto se prepara o terreno para o debate, porque nem tudo vale na hora de sentar-se para comer. O complicado é saber do que cada um precisa e que direção tomar no labiríntico caminho da alimentação. Os especialistas falam em uma nutrição "à la carte", feita na medida de cada pessoa e que inclusive possa prevenir doenças.Cada vez se detectam mais intolerâncias e alergias aos alimentos, e os sites da web oferecem dietas e análises que se apresentam como a panaceia para detectar componentes prejudiciais ao organismo. Além disso, fazer compras se transformou em uma tarefa titânica quando se busca o leite de sempre entre os que têm isoflavonas, ômega 3, soja, não têm lactose ou são enriquecidos com cálcio, porque proliferam os produtos que são vendidos como se fossem remédios.O objetivo é otimizar a saúde. Os alimentos funcionais, aqueles que vão além de seu valor nutricional e têm composições para emagrecer, reduzir o colesterol ou reforçar as defesas, estão na ordem do dia porque ajudam a minimizar os riscos de doenças como as cardiovasculares ou o excesso de colesterol. Esses produtos devem ser regulamentados pelas autoridades de segurança alimentar.Os especialistas falam na nutrição personalizada como o futuro para tratar e prevenir o surgimento de doenças. A genética está no discurso de nutricionistas, endocrinologistas e alergologistas como a base que permitirá individualizar a dieta e os nutrientes de que cada pessoa necessita em função de seus genes. "As instituições vêm funcionando com guias alimentares, quer dizer, recomendações de nutrição básica para a população, mas é preciso dar um passo na direção da nutrição personalizada. Cada pessoa tem sua própria história individual, médica e ambiental. Isto obriga a que, segundo critérios genéticos, cada pessoa receba uma alimentação específica, explica Alfredo Martínez, catedrático de nutrição na Universidade de Navarra e coordenador do Congresso Internacional da Sociedade de Nutrigenética e Nutrigenômica (ISNN), que se realizará em novembro em Pamplona.Essa visão é otimista demais para Susana Monereo, endocrinologista do Hospital de Getafe, em Madri. A especialista não duvida de que haverá um dia em que uma análise genética permitirá saber o que é ruim para cada pessoa, mas acredita que essa ciência ainda está nos primórdios. "Quem mais trabalhou sobre isso é o espanhol José María Ordovás, que descobriu, por exemplo, que há grupos para os quais a dieta mediterrânea não cai tão bem."Outra coisa são as alergias e as intolerâncias, que se transformam em marcadores diferenciais que fazem que a alimentação de uns e outros seja diferente. Detectá-las está permitindo que as pessoas melhorem sua saúde. Representam quase 10% das consultas de alergologia na Espanha. As alergias são reações adversas a algum componente dos alimentos (uma proteína, um ácido graxo). O alérgeno (causador da alergia) provoca uma série de reações em cadeia no sistema imunológico, entre as quais a produção de anticorpos imunoglobulinas IgE, que se traduzem em reações imediatas que causam danos ou inflamação e se manifestam na pele. Por outro lado, a intolerância alimentar afeta o metabolismo mas não o sistema imunológico e tem uma base genética. A intolerância à lactose, que atinge 15% da população espanhola, é a mais frequente. Segundo a Clínica Universitária de Navarra, cada vez há mais pessoas sensíveis a diversos grupos de alimentos vegetais. "As dúvidas que surgem nesses casos é que alimentos podem comer com segurança e quais devem evitar. Uma restrição ampla pode colocar dúvidas sobre o valor nutricional da dieta e a possibilidade de que apareçam deficiências vitamínicas", indicam fontes médicas.Na maioria das vezes é difícil saber qual dos alimentos é o causador de uma reação alérgica; em crianças, os mais habituais são o ovo, o leite e o peixe. Os alergologistas da Clínica Universitária de Navarra estão utilizando, além dos testes cutâneos habituais, uma análise genética para medir as imunoglobulinas IgE. "São microchips com uma superfície sólida à qual se une uma série de fragmentos de DNA. Com a base do genoma podem-se ver as mutações genéticas que fazem que as pessoas utilizem de forma diferente os nutrientes", explica Martínez. Esses testes genéticos são caros e ainda não estão ao alcance de todos os pacientes, mas a confiabilidade é muito alta.Entre as alergias do tipo IgE (imediatas) e as intolerâncias há outra série de alergias difíceis de classificar, que se encontram em uma espécie de limbo e que intrigam médicos e pacientes, mas que estão permitindo saber mais sobre as enfermidades. São anticorpos de imunoglobulinas IgG, reações imunológicas também, mas de efeito retardado, já que podem se manifestar até 72 horas depois do consumo de produtos alérgenos. Muitas pessoas que recebem os resultados negativos de IgE (alergia instantânea) podem ter níveis altos de alergias IgG, sem suspeitar da gravidade do problema. Os sintomas dessas alergias retardadas aparecem sem causa óbvia e podem ser físicos, psicológicos e neurológicos.George Mouton é um médico funcional belga especializado nesse tipo de alergias alimentares. Viaja duas vezes por mês para Madri para dar consultas em um centro de homeopatia e em outros dois dias atende na Hale Clinic de Londres. Mouton acredita que cada pessoa precisa de uma nutrição personalizada, "porque as mesmas dietas não servem para todas". Em seu consultório passam muitos pacientes com problemas digestivos que tiveram resultado negativo nos testes de intolerância e alergias, no entanto têm anticorpos IgG. Segundo o médico, esses pacientes melhoram quando lhes tiram temporariamente os lácteos e depois os consomem em pequenas quantidades. "A medicina funcional se preocupa justamente com esses pacientes que não parecem sofrer alergia ou intolerância porque o diagnóstico deu negativo, mas não estão bem e têm disfunções complicadas de detectar", explica o médico de família que há 12 anos combina a medicina tradicional com a funcional.Cada vez mais as alergias e intolerâncias alimentares são relacionadas a certas doenças autoimunes, em que o organismo ataca seus próprios tecidos (como a artrite reumatóide, a esclerose lateral amiotrófica ou a doença de Crohn). Os pacientes então optam por combinar os tratamentos médicos tradicionais com a medicina funcional. Essa combinação de tratamentos é mais difundida na Europa e começa a aparecer na Espanha.É o caso de uma menina de 11 anos que foi diagnosticada em março com artrite reumatóide. Seus pais, depois de consultar diversos especialistas, decidiram combinar o tratamento com medicina tradicional e funcional. O Hospital Menino Jesus de Madri lhe aplica um medicamento chamado metotrexato, mas ao mesmo tempo a paciente frequenta um médico funcional para seguir o tratamento à base de oligoelementos (ferro, cobre, iodo, manganês, selênio, zinco, entre outros). "Depois de uma análise, foram detectadas alergia a ovo, a leite animal e a glúten. Desde que parou de consumir esses alimentos, temporariamente, encontra-se muito melhor. Creio que foi interessante combinar os dois tratamentos", explica sua mãe.As análises sobre alergias são apresentadas como mais uma ferramenta para personalizar a alimentação e melhorar a saúde. As pessoas se questionam se funcionam realmente ou se servem para emagrecer. O que está acontecendo com o Alcat, um dos testes mais conhecidos, que diz medir a tolerância a uma centena de nutrientes? A controvérsia em torno desse tipo de análise é enorme. Muitos médicos a criticam, afirmando que não existem dados científicos que confirmem sua eficácia em médio e longo prazo. "Segundo as sociedades científicas em nível mundial, esse tipo de análise não é válido, muito menos para dietas de emagrecer, como muita gente acredita", indica Joaquín Sastre, chefe do serviço de alergologia da Fundação Jimenez Díaz de Madri.A maioria dos especialistas consultados duvida da eficácia do Alcat. "Esse tipo de teste é mais comercial, fizeram muito marketing e está na boca de todo mundo. Talvez resolva alguns casos, mas muitos outros não. Não é a panaceia, certamente", concorda Amelia Martí, professora e pesquisadora em obesidade no Departamento de Ciências da Alimentação, Fisiologia e Toxicologia da Universidade de Navarra.Entre os defensores do Alcat está Gloria Aldaz. Essa mulher de 50 anos decidiu há nove fazer o teste porque tinha digestão muito ruim e queria perder peso. "Decidi experimentá-lo porque muita gente me havia falado e me animei. Saiu intolerância a azeitonas e azeite, a leite de vaca, aveia, pêssegos, todos os levedos, trigo, amendoim e milho." Ela deixou de comer esses alimentos durante um ano e depois os foi introduzido aos poucos. Aldaz conta que experimentou uma melhora em sua saúde: "Melhor digestão, mais vitalidade e emagreci". Além disso, essa mulher é alérgica a ovo e carne, o que foi detectado quando nasceu sua sobrinha, que tinha alergia a quase todos os alimentos.Intolerância, genética e analíticas à parte, os nutricionistas sabem que a saúde é uma das maiores preocupações da população e que para isso é preciso mudar os hábitos alimentares. "O grande problema é que as pessoas buscam soluções rápidas e fáceis de seguir, e isso em nutrição é muito difícil", conclui Susana Santiago, especialista em nutrição no ciclo vital da Universidade de Navarra.Nisso, Susana Monereo é taxativa: "Há dietas recomendadas para as grandes síndromes, como as doenças cardiovasculares ou o câncer. Inclusive para a deterioração cognitiva (comer muitas frutas vermelhas e secas). Mas a preocupação por esses assuntos em pessoas saudáveis é excessiva", afirma. Por isso insiste no que chama - e quase se podem ouvir as maiúsculas - "A Dieta: comer pouco, bom e variado, com poucas gorduras e açúcares". O de sempre? "Até hoje é o que funciona melhor em geral." Fonte: UOL SAÚDE
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